Sim, eu posso não gostar de uma obra de arte!

Por REBERSON ALEXANDRE

Sabe quando você vê uma obra de arte e comenta que não gosta dela, e daí vem uma pessoa dita especializada te dizer que você não pode dizer isto, por que a arte é expressão do artista e não tem essa questão de gostar ou não gostar, e sim de entender? Tenho uma ótima notícia, isto é mentira e é sobre isto que vamos conversar hoje!



Um dos piores paradigmas das artes plásticas é não nos dar liberdade para gostar ou não de uma obra, nossa única posição como observadores é simplesmente aceitar o que nos é dado pelo artista, já que na arte não é a questão de gostar e sim de sentir . As pessoas que dizem isso ficaram provavelmente os últimos 1000 anos numa bolha e não viram a revolução proposta pela interação nos últimos anos; a internet, a TV e antes disso até no “arcaico” rádio, onde eu podia ligar e pedir uma música ou criticar a rádio e sua programação.

Tudo bem, mas esse negócio de não questionar a arte nem o artista existe, é presente, mas de onde vem? Por que tanta gente acredita nessa conversa fiada?

Durante um grande período da história, a arte esteve ligada prioritariamente à religião, sendo que até pouco tempo atrás era a religião a maior patrocinadora de arte, portanto eram a ideologia e as características destas instituições que eram transmitidas na produção artística. Como é sabido que não se pode questionar uma obra religiosa, primeiro por que ela, apesar de ser produzida por uma pessoa, veio através de uma inspiração divina que de forma alguma não podemos questionar. Nossa sociedade evoluiu, mas sempre mantém muitas características, sendo essa uma delas, em parte, por que muito artistas se privilegiam. Muitas pessoas ainda tratam a arte não como um jogo de linguagem e criação de efeito de sentido e sim como algo místico que vem de uma inspiração divida.

Como uma atividade humana pode evoluir sem nos dar liberdade de questionar sua qualidade, se fechando em um grupinho de pessoas que se dizem entendidas, evitando discussão? As empresas demoraram muito para entender que não dá para ignorar o receptor de uma informação, mas no mundo das artes plásticas, essa idéia parece estar muito forte.

Acredito que todos devemos, como apreciadores de arte, fazer de tudo para saber o contexto em que a obra foi criada. Qual pensamento tinha a sociedade que produziu aquele artista, e que por sua vez, produziu aquela obra. Mas conhecer o contexto e saber o que diz/faz sentir uma obra de arte não é fator obrigatório para forçar alguém a aceitar e não questionar uma obra de arte!

0 comentários:

Postar um comentário